É um instrumento de grande importância, tanto pela sua antigüidade e comprovada autoria, quanto por ter sido objeto de um amplo trabalho de restauração. Entre os órgãos da manufatura Schnitger que sobreviveram até hoje, esse é um dos exemplares mais bem conservados e o único que se encontra fora da Europa. O instrumento está sendo estudado, a fim de fazer parte do tombamento internacional de órgãos da manufatura Arp Schnitger pela Unesco.
Construído na Alemanha na primeira década do século XVIII, esse órgão passou um período em Portugal e, tendo sido colocado à venda em 1747, foi adquirido das mãos do organeiro João da Cunha pelo Rei D. João V que pretendeu enviá-lo à Mariana, mas que faleceu antes disso acontecer. Assim, seu filho D. José I fez do órgão um presente à récem criada Diocese de Mariana que, já em 1748, mantinha, em sua Sé, um organista: Pe. Manuel da Costa Dantas e um mestre de capela: Pe. Gregório dos Reis Melo.
O transporte do órgão ocorreu por navio e lombo de animais, havendo relatos bem exatos das condições de chegada: “…um órgão grande com sua caixa e talhas pertencentes a ele que chegou em 18 caixões numerados com as advertências precisas para se armar e também em 10 embrulhos grandes e pequenos numerados…”.
Desde sua instalação, em 1753, o órgão Arp Schnitger foi o centro de uma intensa atividade musical na Sé de Mariana, cuja memória escrita é o acervo de partituras do Museu da Música, que abriga obras de compositores do período colonial. São compositores de várias cidades do Estado e do país. Após muitos anos de funcionamento ininterrupto, nos quais por algumas vezes recebeu algumas modificações visando adaptá-lo ao gosto vigente na época, por volta da década de 30 o órgão da Sé parou de funcionar. Somente na década de 70, após pesquisas sobre a sua procedência e do reconhecimento de sua importância para o acervo de instrumentos musicais não só brasileiro, mas também mundial, foi feito um esforço concentrado para a restauração do instrumento.
Restauração
Na década de 1970 o organista alemão Karl Richter esteve em Mariana a convite do Arcebispo D. Oscar de Oliveira e do então presidente da CEMIG, Dr. Francisco Afonso Noronha para fazer uma avaliação do instrumento que continha, no interior de sua caixa, um grande número de peças originais preservadas e considerou esse instrumento um órgão muito importante, saído provavelmente da manufatura de Arp Schnitger. Após essa visita e graças a um esforço considerável, os elementos musicais do órgão foram enviados a Hamburgo, Alemanha, onde foram reformados sob os cuidados da firma von Beckerath.
Enquanto isso, uma equipe brasileira da Universidade Federal de Minas Gerais, sob a orientação de Beatriz Coelho, restaurava a estrutura interna e externa da caixa e as partes que compõem a decoração do instrumento. Nesse primeiro trabalho, o grande mérito foi trazer o instrumento de volta à vida usando as conquistas técnicas da época, sem destruir os sinais das fases anteriores, valiosíssimos no caso de uma restauração posterior com enfoque mais histórico.
Reinaugurado em 1984 o Órgão Arp Schnitger voltou a ser centro da vida musical de Mariana, acompanhando missas e celebrações litúrgicas, além de ser apresentado em concertos regulares e internacionais, que tem trazido ao Brasil organistas de renome mundial. Embora o órgão estivesse tocando e funcionando bem, algumas características importantes que não puderam ser reconstruídas foram deixadas para uma segunda etapa, feita por iniciativa da Fundação Cultural e Educacional da Arquidiocese de Mariana, que teve início em julho de 1997, com a visita de Bernhard Edskes a Mariana, e foi concluída em fevereiro de 2002 com a entrega oficial do instrumento.
A afinação foi mudada para um sistema mais condizente com a época de construção do instrumento e alguns registros foram reconstruídos Juntamente com a restauração foi refeita a pesquisa histórica do instrumento, visando o levantamento de mais dados desde a sua construção até a chegada em Minas, assim como suas diferentes funções ao longo de sua história. Esta restauração foi realizada pela Firma Edskes Orgelbau, de Wohlen, na Suíça e teve o patrocínio da Petrobrás e o apoio da Varig, Tam e da Vitae.
Organistas
Elisa Freixo, no campo de música erudita, Elisa Freixo tem uma das mais importantes carreiras do país na atualidade. Após ter concluído seus estudos no Brasil, viveu quatro anos na Europa. Estudou órgão e cravo, tendo cursado a Escola Superior de Música e Artes Cênicas de Hamburgo, Alemanha, a Schola Cantorum de Paris e o Conservatório Nacional de Rueil Malmaison, França.
De volta ao Brasil em 1982, vem se apresentando aqui e no exterior em inúmeros concertos de órgão, cravo e fortepiano, e desenvolvendo uma atividade paralela como camerista. Reside hoje em de Mariana, Minas Gerais, onde é responsável pela série de concertos no órgão histórico Arp Schnitger, instalado na Catedral da Sé dessa cidade. A partir de 1985, gravou 12 discos e CD’s, dos quais seis de produção independente, dedicados a obras de J.S.Bach, Mendelsohn, autores românticos, e uma série composta até agora de três volumes dedicada ao órgão da Sé de Mariana.
Seu primeiro CD, com o selo Auvidis-Valois francês, dedicado ao repertório espanhol do século XVIII, recebeu um prêmio inédito entre artistas brasileiros: o Grand Prix du Disque da Nouvelle Academie Française, uma das distinções mais importantes do mercado fonográfico mundial.
Josinéia Godinho, organista e cravista, formada pela Escola Superior de Música Santa Marcelina (SP), continuou seus estudos de música sacra em Herford e na Escola Superior de Música de Hamburgo (Alemanha), na classe do Prof. Wolfgang Zerer especializando-se em órgão. Desenvolveu paralelamente estudos de cravo sob a orientação das professoras Isolde Kittel e Gisela Gumz. Participou de diversos cursos de interpretação de órgão e cravo.
Atuou como solista e camerista tendo feito concertos na Alemanha, Holanda, Argentina e Japão. Participou de vários duos: órgão e trompete com Sabine Braun (desde 1996); cravo e flauta com Barbara Witter (entre 2000 e 2002) e dois cravos com Elisa Freixo (desde 2000). Em 2002 participou da gravação do CD do Museu da Música de Mariana, com o Coral Ars Nova e Orquestra.
Reside hoje em Mariana, onde colabora na apresentação de concertos ao órgão da Sé e trabalha num projeto de divulgação e valorização dos instrumentos brasileiros.
O que é órgão
Órgão é um instrumento de sopro, composto de tubos, um para cada nota musical, dispostos de acordo com uma ordenação definida, alimentados por um fole e acionados por um ou mais teclados.
O órgão é constituído pelos seguintes elementos: foles, canais de ar e someiro, tubos e teclados. Saiba um pouco mais sobre eles:
Foles: elementos produtores de ar;
Canais de ar e someiros: responsáveis pela distribuição e armazenamento de ar;
Tubos: elementos sonoros também chamados de registros;
Teclados ou mesa de comando: que permite ao organista comandar as aberturas dos canais que levam o ar até os tubos.
Além destes elementos, o órgão Arp Schnitger situado na Sé de Mariana é composto de dois manuais (teclados):
Hauptwerk: Teclado principal que aciona o conjunto de tubos situado na parte superior da caixa;
Brustwerk: Teclado positivo de Peito que aciona o conjunto de tubos situado na parte de baixo da caixa, bem próximo ao organista.
Localização
O órgão Arp Schnitger localiza-se na Catedral Basílica da Sé ou de Nossa Senhora da Assunção, em Mariana (MG), onde são realizados os concertos. A cidade é a sede da Associação Brasileira de Organistas, pólo desta manifestação artística no país.
Fonte das Informações
Site Orgão da Sé
http://www.orgaodase.com.br/